Com o aumento gradativo de artistas no cenário, o mercado da música eletrônica exige cada vez mais dose de coragem, batemos um papo com Marco Antônio, o Markov que saiu de uma aposta para realidade no cenário Tech-House, atualmente reside em Lisboa/Portugal, lançou seu primeiro EP "Bass Down Low" pelo selo Koffe Records recentemente, dividindo palco com grandes artistas, como Vintage Culture, Meca, Melanie Ribbie, Copolla, Dubdogz, Kvsh, André Gazolla e apresentações em gigs na Europa, falou sobre diversos aspectos da sua vida profissional e pessoal.
Olá Marco. Muito obrigado por nos ceder esta entrevista. Para começarmos, como você teve seu primeiro contato com a música eletrônica e como descobriu que era isso que queria fazer para a vida?
Olá, sempre um prazer poder falar um pouco de um assunto que me atrai tanto. Me sinto ainda mais feliz por conseguir agregar de alguma forma no meio! Acredito que meu primeiro contato com a música eletrônica foi quando eu era criança e meu primo mais velho me mostrou o remix do Skazi para o clássico I Wish do Infected Mushroom, depois disso procurei bastante sobre ambos artistas e o resto foi consequência.
Descobrir que era isso que eu queria para a vida foi um processo muito mais denso. Mas acabou sendo natural pelo fato de sempre estar no meio curtindo ou produzindo eventos.
Recentemente você se apresentou em gigs por Londres e Lisboa dividindo o palco com Dubdogz e Kvsh, como foi o seu contato com a pista de cada lugar?
Foram experiências diversas e incríveis. Em Londres toquei em Westminster num Club muito mais intimista, praticamente sem palco e perto do público. Acho que isso me ajudou a explorar um som mais envolvente, reto e com bem menos breaks... Já em Lisboa toquei para uma pista maior, em um palco mais estruturado e com aquela vibe de um grande club, então minha ideia foi explorar um som mais dinâmico. No final das contas foram experiências diferentes mas que me agregaram bastante na relação entre DJ e pista.
Como está sendo a sua experiência sonora morando em Lisboa e qual a diferença para o cenário Brasileiro?
Acredito que seja a maior experiência sonora que já presenciei na vida. Aqui eu sinto que não há tanto apego pelos new releases como no Brasil, mas ao mesmo tempo você tem contato com as novidades (principalmente no techno) antes que todo mundo. A necessidade de tocar “hits” também é extremamente menor. Ir a um bom club ou a alguma private é como entrar numa pesquisa densa de novas (e antigas) fantásticas tracks. Uma diferença grande pro cenário brasileiro é a enorme quantidade de DJs que preferem o vinyl. A grande diferença fica por conta do house music. O que é consumido e tocado por aqui é bem diferente do que temos a nível dos grandes festivais do segmento no Brasil.
Você lançou seu primeiro EP "Bass Down Low" pelo selo Koffe Records, que possui duas faixas, uma que intitula o nome do álbum e "oh me", que são faixas bem produzidas, com bastante groove, como está sendo a recepção do seu público e você está satisfeito com o resultado final?
Apesar do EP ter sido lançado em dezembro de 2019, eu produzi essas tracks em meados de julho, o que foi antes da minha experiência de estar aqui. Acredito que as próximas tracks a serem lançadas já terão uma cara diferente, mas ainda assim respeitando a identidade que quero agregar ao projeto.
Quanto à recepção de pista eu tive ótimos resultados, principalmente com a track que deu nome ao EP, a Bass Down Low.
qual foi a a principal gig que você tocou?
Sinceramente essa é uma pergunta que eu não consigo ter uma resposta exata.
A nível de importância profissional com certeza são as gigs em Londres e Lisboa, mas ao mesmo tempo fui residente da Sollares que é a maior festa do circuito nordestino e que eu tenho um carinho imenso. É uma festa que eu amo tocar.
Ainda em 2019 eu toquei na Inferninho em Salvador que deve ser uma das minhas festas favoritas pela proposta e conceito que ela carrega.
Um caso parecido com esse é o da EMP lá de Maceió. Era uma festa que eu curtia na pista e me imaginava um dia tocando. Algum tempo depois eu estava segurando a pista da festa até às sete da manhã. É impossível criar uma escala de importância, cada uma delas me tocou de uma maneira diferente.
O que você pensa sobre o cenário tech-house atual?
Tech-house é a vertente do house que eu acredito que esteja mais em alta hoje. E quem acompanha o cenário já estava visualizando isso há pelo menos dois anos quando o brazilian bass começou a morrer e o bass house não acompanhou o sucesso. Acho que este hype criado em cima da vertente ajudou diversos produtores a terem destaque em seu trabalho. A nível Brasil tivemos muita gente nova lançando muito trabalho bom na pista e ainda a reinvenção de alguns DJs grandes da cena. O que me incomoda é apenas a migração em bando para o estilo como se fosse uma fórmula do sucesso. Vi muitos projetos simplesmente esquecerem sua identidade para tentar focar em um produto midiático.
Você já teve algum entrave na sua carreira como deejay? Algum episódio que considera delicado?
Os entraves na carreira de um DJ começam do momento que ele decide seguir essa carreira até a hora de subir no palco. Problemas com raider técnico, equalização do som, equipamento, imprevistos, produtores despreparados, calotes, além de um certo preconceito com a profissão. Acredito que meus episódios delicados vieram de pequenas situações específicas que me deparei em diferentes gigs.
Markov é possivel citar apenas uma track que tem extrema uma importância para você?
É uma pergunta muito difícil pra quem nunca é exato. Eu tenho tracks que são de extrema importância para mim em diferentes aspectos e para diferentes momentos.
Para ser justo vou na primeira que veio a minha cabeça, apesar de clichê: New Order - Blue Monday
Marco você é bem ligado as artes no geral, você sempre posta na sua rede social muita imagem de arte urbana (Graffite), quadros e você possui um estilo próprio, quais são as suas influências dentro e fora da música?
Eu sempre fiz questão de não vincular meu projeto apenas à ideia da música eletrônica.
Existe todo um conceito e história que eu carrego comigo antes de pegar na CDJ, colocar meu pendrive e me apresentar ao público. Eu costumo pensar que a música eletrônica é o produto final.
Então, para chegarmos até ele, eu vínculo direta e indiretamente tudo que faz parte da minha vida ou que eu admire de alguma forma. A Esther Alencar (DJ que trabalhou em meu projeto como minha diretora de marketing) abriu muito minha cabeça quando me disse que MARKOV deveria ser uma referência artística geral e não apenas musical.
Então eu faço de tudo para agregar ao projeto todas as minhas vivências e percepções sobre arte, música de diversos gêneros e até mesmo moda.
A experiência na Europa criou uma ligação muito clara em minha mente entre a música e a arte urbana, a cidade e as pessoas. Está tudo interligado.
O que você gosta de fazer nos tempos livres, fora a música eletrônica?
Quando estou fora da música eletrônica eu ainda estou na música. Escuto música basicamente o dia inteiro. Em meu tempo livre eu gosto de relaxar ouvindo rap, blues ou jazz, assistir bons filmes (com minha mania chata de sempre verificar a nota antes de assistir qualquer coisa) ou simplesmente ir para uma das milhares de jams ou rodas culturais que temos em Lisboa.
para finalizar o que podemos esperar de Markov em 2020?
Acredito que Markov em 2019 teve uma experiência e um crescimento pessoal muito maior que profissional. No final do ano passado e no começo desse ano eu dei uma espécie de hiato para organizar a carreira e entender melhor certas definições para o futuro.
Em 2020 eu pretendo mostrar ao público um projeto muito mais maduro e autêntico aos meus termos. Me vejo em uma fase de reinvenção diária.
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